A influência do livro na moldura comportamental e configuração das sociedades lhe confere a condição de uma das mais relevantes criações humanas, em cuja concepção certamente prevaleceu o propósito de viabilizar a difusão de ideias mundo afora. A transposição do pensamento ao papel bem como ao formato eletrônico e sua consequente circulação traduz a lógica na qual se apoia a criação deste extraordinário artefato, o qual, infelizmente, no Brasil ainda não goza do merecido prestígio, não apenas pelo pouco estímulo à leitura no seio familiar e insatisfatório impulso nos ambientes escolares formais, mas, especialmente, pelo desprezo de uma elite política que macula, pela ideologia cega e estúpida, a função fundamental do livro, qual seja, a de educar.
É forçoso reconhecer que o compartilhamento do pensamento não é prerrogativa do mundo ocidental e muito menos fora forjado sob o molde hegemônico a que denominamos livro, mas, fundamentalmente, pertence ao universo de um passado remoto vinculado às manifestações da cultura rupestre, haja vista esta constituir um conjunto ainda inimaginável de registros a denotar a necessidade e urgência humana em inscrever, mesmo em paredes, suas impressões do mundo, da vida.
Compartilhar as cenas da vida traduz, certamente, um marco e essencial impulso a promover, no ser humano, a mobilidade para a reprodução e mesmo a recriação da existência, à medida que os desenhos de um passado antiquíssimo em paredes no interior de cavernas, não apenas e necessariamente indicam uma etapa preambular ao processo evolutivo de matriz cultural, cujo fundamento consiste na narrativa das experiências, mas, igualmente, na reinvenção do existir, propósito resultante da vocação humana a não submeter-se aos limites do real.
A exposição esboçada nesse singelo ensaio possui, como questão de fundo, o entendimento quanto a singular importância do livro para a formação do ser humano e consequente expansão de sua consciência no mundo, haja vista nossa irrenunciável busca por comunicar, ao ambiente circundante, o modo como interpretamos a realidade em contraposição à rasa e inacreditavelmente infantil percepção de setores da política nacional, notadamente o chefe do executivo federal, cuja apreensão do universo literário, restrita ao rasteiro entendimento de que a política educacional do país deve reger-se sob a observância de inserção do hino nacional nos livros didáticos, bem como à mitigação da palavra no bojo de suas páginas a fim de "suavizar" o conteúdo ali inscrito, empresta solidez à conclusão de que algo muito bizarro instalou-se no Brasil.
A presente opção por resgatar a expressão pictórica e sua consequente inserção no ambiente da cultura artístico-literária do planeta, atende a uma íntima convicção, imantada pela ideia de que as narrativas daquele recôndito passado pré-histórico, no qual a espécie humana se apropriava do real com tenaz insubordinação, uma vez que não se satisfazia com o que a concretude existencial lhe apresentava de modo acabado, definitivo, compunha-se como resultado da pulsão que nos provoca à criação, desconstrução e refazimento da existência, e, malgrado a antropologia nos indicar que tais inscrições/pinturas em cavernas eram práticas de reprodução da vida imediata como a caça, incipiente agricultura e ritos os mais diversos, é, ao menos razoável, que tal suposta objetividade memorial estivesse conjugada a uma espontânea metodologia narrativa de seus feitos ao modo instintual e próprio de projeção das impressões do cotidiano.
O salto criativo que a humanidade empreendeu no campo da comunicação encontrou, na elaboração da escrita, um feito tão sofisticado a ponto de tornar-se inquestionável que o domínio de tal mecanismo conferia poder sem igual a quem dele se apropriasse. Restringir, portanto, o acesso aos códigos linguísticos inscritos em livros era medida que se impunha com vistas à manutenção da dominação de poucos sobre muitos, condição que, estranhamente, parece estar se configurando no Brasil à medida que o atual presidente da república, de maneira pública, expõe, de modo esdrúxulo que os livros didáticos brasileiros possuem um padrão constitutivo cuja transcrição segue a baixo:
Os livros hoje em dia, como regra, são um montão de amontoado de muita coisa escrita. Tem que suavizar aquilo.
A declaração oculta, sob o manto da estupidez flagrantemente manifesta, o desejo de que a produção de livros didáticos no Brasil incorpore, certamente, a deficiência cognitiva programada de que padece este senhor, para o qual o livro, a fim de existir como conteúdo de expressão da realidade e criação fruto da inventividade humana deve restringir a palavra, justamente o componente que, àquele objeto difusor do pensamento atribui feição singular, ou seja, o define como livro.
Cumpre destacar que a deficiência cognitiva acima referida se expressa nos ambientes em que o superficial é apreendido em sua manifestação imediata, significando afirmar, por exemplo, que nada impediria que uma alegoria, figura de linguagem largamente utilizada para exprimir uma ideia, sofra a conveniência de seu deslocamento ao campo literal, afinal de contas, em tempo estranho de revisionismo histórico e anticientífico, qual o problema em aceitar que o mito da caverna de Platão constitui um fato, uma história convertida em metáfora para demonizar o liberalismo, situando o marxismo no olimpo das utopias libertárias?
Em consonância com a perspectiva aqui defendida, qual seja, a noção de que a irrefreável criatividade humana é mola propulsora para a desconstrução e refundação da realidade, talvez o capitão reformado e hoje (pasmem!) presidente da república federativa do Brasil tenha se inspirado não exatamente na experiência cultural que os indivíduos da pré-história nos deixou como legado com suas inscrições em cavernas, mas no fato de se abrigarem nas mesmas, condição simbólica e que muito bem ilustra a débil condição cognitiva a destacar um chefe de estado que, ao contrário de notabilizar-se como principal liderança da América Latina, segue agachado diante da América do Norte, uma servil posição que sem dúvida desconstrói nossa tradição no âmbito das relações internacionais, ato de retrocesso jamais testemunhado na história brasileira. Vergonhoso!
O pensamento é impossível de ser contido mesmo sob o mais duro regime de repressão cultural, e ainda que seu compartilhamento esteja em desconformidade com um dos melhores modelos de veiculação de ideias (livro), a inventividade há de nos guiar para a recriação de modos de expressão que, ao invés de dividir nosso país entre os que tentam desfigurar o papel de relevância fundamental que a palavra inscrita em suporte físico ou virtual detém e os que não se permitem subjugar por tal entendimento raquítico e miserável, nos faça convergir para a compreensão hegemônica de que não é suavizando os textos de livros didáticos nas escolas públicas que alcançaremos algum avanço na formação dos estudantes, mas sim, estimulando-os a trilhar, conforme imagem bíblica, o "estreito" "caminho" que conduz à "salvação", o que no presente caso, corresponde ao contato com livros de denso conteúdo, marcados pelo propósito de não infantilizar as pessoas, mas lhes possibilitar empoderamento que as liberte das amarras da ignorante mediocridade.
Em algum lugar na Via Láctea,
Maurício.
foto: @nfnkalyan
É forçoso reconhecer que o compartilhamento do pensamento não é prerrogativa do mundo ocidental e muito menos fora forjado sob o molde hegemônico a que denominamos livro, mas, fundamentalmente, pertence ao universo de um passado remoto vinculado às manifestações da cultura rupestre, haja vista esta constituir um conjunto ainda inimaginável de registros a denotar a necessidade e urgência humana em inscrever, mesmo em paredes, suas impressões do mundo, da vida.
Compartilhar as cenas da vida traduz, certamente, um marco e essencial impulso a promover, no ser humano, a mobilidade para a reprodução e mesmo a recriação da existência, à medida que os desenhos de um passado antiquíssimo em paredes no interior de cavernas, não apenas e necessariamente indicam uma etapa preambular ao processo evolutivo de matriz cultural, cujo fundamento consiste na narrativa das experiências, mas, igualmente, na reinvenção do existir, propósito resultante da vocação humana a não submeter-se aos limites do real.
A exposição esboçada nesse singelo ensaio possui, como questão de fundo, o entendimento quanto a singular importância do livro para a formação do ser humano e consequente expansão de sua consciência no mundo, haja vista nossa irrenunciável busca por comunicar, ao ambiente circundante, o modo como interpretamos a realidade em contraposição à rasa e inacreditavelmente infantil percepção de setores da política nacional, notadamente o chefe do executivo federal, cuja apreensão do universo literário, restrita ao rasteiro entendimento de que a política educacional do país deve reger-se sob a observância de inserção do hino nacional nos livros didáticos, bem como à mitigação da palavra no bojo de suas páginas a fim de "suavizar" o conteúdo ali inscrito, empresta solidez à conclusão de que algo muito bizarro instalou-se no Brasil.
A presente opção por resgatar a expressão pictórica e sua consequente inserção no ambiente da cultura artístico-literária do planeta, atende a uma íntima convicção, imantada pela ideia de que as narrativas daquele recôndito passado pré-histórico, no qual a espécie humana se apropriava do real com tenaz insubordinação, uma vez que não se satisfazia com o que a concretude existencial lhe apresentava de modo acabado, definitivo, compunha-se como resultado da pulsão que nos provoca à criação, desconstrução e refazimento da existência, e, malgrado a antropologia nos indicar que tais inscrições/pinturas em cavernas eram práticas de reprodução da vida imediata como a caça, incipiente agricultura e ritos os mais diversos, é, ao menos razoável, que tal suposta objetividade memorial estivesse conjugada a uma espontânea metodologia narrativa de seus feitos ao modo instintual e próprio de projeção das impressões do cotidiano.
O salto criativo que a humanidade empreendeu no campo da comunicação encontrou, na elaboração da escrita, um feito tão sofisticado a ponto de tornar-se inquestionável que o domínio de tal mecanismo conferia poder sem igual a quem dele se apropriasse. Restringir, portanto, o acesso aos códigos linguísticos inscritos em livros era medida que se impunha com vistas à manutenção da dominação de poucos sobre muitos, condição que, estranhamente, parece estar se configurando no Brasil à medida que o atual presidente da república, de maneira pública, expõe, de modo esdrúxulo que os livros didáticos brasileiros possuem um padrão constitutivo cuja transcrição segue a baixo:
Os livros hoje em dia, como regra, são um montão de amontoado de muita coisa escrita. Tem que suavizar aquilo.
A declaração oculta, sob o manto da estupidez flagrantemente manifesta, o desejo de que a produção de livros didáticos no Brasil incorpore, certamente, a deficiência cognitiva programada de que padece este senhor, para o qual o livro, a fim de existir como conteúdo de expressão da realidade e criação fruto da inventividade humana deve restringir a palavra, justamente o componente que, àquele objeto difusor do pensamento atribui feição singular, ou seja, o define como livro.
Cumpre destacar que a deficiência cognitiva acima referida se expressa nos ambientes em que o superficial é apreendido em sua manifestação imediata, significando afirmar, por exemplo, que nada impediria que uma alegoria, figura de linguagem largamente utilizada para exprimir uma ideia, sofra a conveniência de seu deslocamento ao campo literal, afinal de contas, em tempo estranho de revisionismo histórico e anticientífico, qual o problema em aceitar que o mito da caverna de Platão constitui um fato, uma história convertida em metáfora para demonizar o liberalismo, situando o marxismo no olimpo das utopias libertárias?
Em consonância com a perspectiva aqui defendida, qual seja, a noção de que a irrefreável criatividade humana é mola propulsora para a desconstrução e refundação da realidade, talvez o capitão reformado e hoje (pasmem!) presidente da república federativa do Brasil tenha se inspirado não exatamente na experiência cultural que os indivíduos da pré-história nos deixou como legado com suas inscrições em cavernas, mas no fato de se abrigarem nas mesmas, condição simbólica e que muito bem ilustra a débil condição cognitiva a destacar um chefe de estado que, ao contrário de notabilizar-se como principal liderança da América Latina, segue agachado diante da América do Norte, uma servil posição que sem dúvida desconstrói nossa tradição no âmbito das relações internacionais, ato de retrocesso jamais testemunhado na história brasileira. Vergonhoso!
O pensamento é impossível de ser contido mesmo sob o mais duro regime de repressão cultural, e ainda que seu compartilhamento esteja em desconformidade com um dos melhores modelos de veiculação de ideias (livro), a inventividade há de nos guiar para a recriação de modos de expressão que, ao invés de dividir nosso país entre os que tentam desfigurar o papel de relevância fundamental que a palavra inscrita em suporte físico ou virtual detém e os que não se permitem subjugar por tal entendimento raquítico e miserável, nos faça convergir para a compreensão hegemônica de que não é suavizando os textos de livros didáticos nas escolas públicas que alcançaremos algum avanço na formação dos estudantes, mas sim, estimulando-os a trilhar, conforme imagem bíblica, o "estreito" "caminho" que conduz à "salvação", o que no presente caso, corresponde ao contato com livros de denso conteúdo, marcados pelo propósito de não infantilizar as pessoas, mas lhes possibilitar empoderamento que as liberte das amarras da ignorante mediocridade.
Em algum lugar na Via Láctea,
Maurício.
foto: @nfnkalyan
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