A
frase O universo numa casca de Noz, cunhada
pelo grande matemático e físico teórico Stephen
Hawking, a qual intitula um de seus extraordinários livros, constitui
indicativo de que o tamanho das coisas não abriga, necessariamente, relação de
proporção com seus significados. A esse respeito, basta observarmos a natureza
e as sutis apreensões que dela advêm, uma vez que, permitindo-se escutar com
sensibilidade o canto dos pássaros, o farfalhar das folhas ou mesmo o impacto de
uma queda d’água em seu pouso sobre as rochas, conceberemos uma peça musical inaudível
aos que não se permitem sonhar.
Sonhos
possuem o condão de nos fazer enxergar em diminutos elementos, grandes
significados, os quais correspondem ao sentido de nossa existência e nos
permitem aceitar o quão graciosa e repleta de poesia é a vida, cuja evidência
resta comprovada quando, por exemplo, dominados pela espontaneidade lançamos
pequenas pedras em direção a um rio ao dele nos aproximarmos.
Tal contexto
me provoca a doce lembrança de uma breve estadia em um charmoso e bucólico
hotel Fazenda, no qual uma gentil, bela e delicada mulher convidou-me a
participar, com sua filha e neta, de uma brincadeira por ela denominada bola de batom, a qual consistia num jogo
de baralho, cujo perdedor sofria a sanção de ser marcado pelo vencedor com uma bola de batom. Tal experiência, tão
infantil e singela, durou menos de uma hora, contudo, tempo suficiente para compreender
seu significado, o qual reside no valor que devemos conferir às pessoas.
Significados
acompanham sonhos a despeito das ocasiões em que se manifestam, seja em
momentos de vigília nos quais mergulhamos absortos em alguma reflexão ou leitura,
ou simplesmente quando adormecidos em nossa cama. O sentido para a vida jaz em
cada diminuto objeto, em pequenos gestos, nas circunstâncias às quais a
consciência se esvai como água que se tenta reter nas mãos, porquanto
aparentemente incompreensíveis à razão.
Sonhos,
significados e sentido compreendem a tríade a brotar de nossa subjetividade, a
qual nos lança aos estados de perplexidade, encantamento, desencanto,
esperança, auto flagrância, significando afirmar que, seja qual for o significado
nascido dos sonhos, o sentido existencial nos aguardará nas horas de profundo regozijo
e nos escombros deixados por inevitáveis tormentas.
Perseguir o sentido para a existência talvez encerre
um dos fundamentais capítulos em nossa militância humana, questão que acossa
igualmente pensadores de vultosa envergadura intelectual e ao mais singelo dos
seres, tendo em vista que o espírito dos homens está indelevelmente marcado por
esta condição, qual seja a de sonhar e buscar sentido(s).
A
propósito de tal condição, se faz oportuno citar um pensador cuja trajetória
pessoal carrega a marca da dor, mas, sobretudo, do entendimento de que a busca
de sentido perfaz nosso inescapável alicerce existencial. Trata-se do doutor Victor Frankl,
autor do renomado livro Em Busca de
Sentido de 1946, (Ein Psycholog erlebt das Konzentrationslager), no qual
narra sua brutal experiência em campos de concentração nazistas e descreve
oportunamente seu método psicoterapêutico fundado na idéia de como alcançar
razão para viver. A sensível, brilhante e chocante narrativa parte de uma
inquietante frase atribuída a Dostoievski, na qual este gênio afirma temer
apenas não ser digno do próprio
sofrimento, da qual aquele autor se apropria a fim de indicar que o sentido
da vida habita a integralidade dos dias, todos os momentos, o que impõe
inclusive resignificarmos o sofrimento, uma vez que neste encontramos sentido,
razão.
Cônscio
de que a vida não prescinde de sentido, seja na dor, alegria ou morte, Frankl conclui
sua obra analisando o redimensionamento mental dos judeus livres do cativeiro,
a partir da marcha realizada próxima aos campos que outrora foram seu recanto
de prisão. Observa que suas almas encontram-se confinadas a ponto de
impossibilitar-lhes a experiência do refrigério que a liberdade pode produzir.
Todas as coisas se mostram surreais: os vegetais, os gestos de cordialidade,
enfim, a própria idéia de fruir qualquer benefício advindo da liberdade lhes
soa absurdo, haja vista a amargura tornar-se companheira indivorciável, e a desilusão,
uma sombra permanente. No entanto, há algum sentido para marchar, seguir,
viver... O sentido nos alcança mesmo quando não o reconhecemos.
Se
as pequenas coisas devem ser celebradas por nos despertarem ao entendimento de
que a vida é carregada de beleza, sabor, cor, luz, as grandes provavelmente
apenas explicitem, de modo superlativo, o quão abençoados somos pelo fato de
existirmos em meio à totalidade dos elementos, razão por que elegemos os sonhos
e seus significados em estímulos à busca de sentido, bem como enxergamos,
conforme essa verdadeira poesia quântica, o universo habitando uma casca de Noz, assim como pulsa a vida em
nosso pequenino coração.
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