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ENTRE A APROVAÇÃO DOGMÁTICA E A CRIAÇÃO LIBERTADORA




Liberdade perfaz a condição necessária a que o exercício da individualidade resulte em expressão criativa, fruto de espontânea singularidade que imprime, em cada prática, o traço de quem não sucumbiu ao cumprimento de preceitos que negam uma existência verdadeiramente livre. 

Um dos cárceres mais sutis na existência compreende a negação da individualidade, tendo em vista o desleal e perverso consenso no seio do qual se inscreve a pseuda necessidade de que os indivíduos repliquem, no campo comportamental, à semelhança de cães adestrados, os mesmos movimentos da média, a despeito de tal condição sufocar a espontaneidade que protege da culpa e do medo.

Um dos aspectos mais relevantes para a existência humana é a liberdade, para cujo exercício depende a decisão pessoal de viver as consequências das escolhas, significando afirmar que todas as decisões encerram o fundamento da coragem como condição para o livre exercício da individualidade, caminho no qual a reprovação coletiva estará presente em cada passo empreendido.

Reprovação e criação resultam de uma existência que aspira à liberdade, cuja solidez se constata na capacidade de atribuir relevo ao que se criou, ao emprego de nosssa energia e amor criativo, de modo que a censura/crítica rasa que deriva apenas de nossa insubordinação ao dogma e não à substância ou virtude do que criamos serão, por inafastável analogia, simplesmente pedras num caminho pavimentado por uma doce rebeldia que não permite a negação da individualidade tampouco se submete à manutenção de modelos e esquemas que não cooperam para a diversidade.

 A coragem atua, no campo das decisões, para que a individualidade encontre terreno com vistas a arraigar suas raízes, à medida que a liberdade se impõe como a chuva que rega o campo e mobiliza as forças vitais de produção orgânica para, enfim, a criatividade explodir como farol a guiar as embarcações de nossa melhor disposição na vida.

Entre o cumprimento de obrigações dogmáticas e a liberdade de agir criativamente, escolhamos a segunda, uma vez que, embora a uniformidade comportamental designe algum conforto pela eventual porém infecunda aprovação da média, a autonomia existencial é caminho de criação e infinito contentamento.


Em algum lugar na Via Láctea,

Maurício.

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