A busca por reconhecimento público se tornou uma espécie de missão pessoal nesta era de (des) conexão, a qual impõe aos atores desta mega gincana existencial o cumprimento de tarefas, especialmente o compartilhamento de parcela significativa da intimidade. E se a imagem constitui dado e condição que revela o ser de modo imediato, o autorretrato (self) passou a ser eleito um exercício fundamental de reprodução imagético-relacional, o qual, embora aparentemente democratizante uma vez que aparelhos celulares viabilizaram a instantaneidade decorrente do registro digital, em boa medida a exposição de fotos em redes sociais parece constituir um chamado ao confinamento coletivo.
A
prática viciante de se fotografar por meio de celulares parece ter não apenas o
propósito de se perenizar a ocasião à qual se atribui algum significado ou mesmo
de mera distração para se transformar num protocolo ao isolamento. Sob o
disfarce de expressões a revelar aparente contentamento, as pessoas encaminham,
num ato reflexo, suas fotos às redes sociais sob a expectativa de validação, de
reconhecimento público expresso sob a forma de likes e comentários previsíveis
tais como “linda/o” e tantos outros a produzir regozijo instantâneo, porém, à
medida que essa edificação momentânea vai se esvanecendo em razão da efêmera
novidade não mais provocar interesse, a pulsão pelo refrigério produz o desejo quase
irrefreável de aprisionamento que essa verdadeira evasão da realidade propicia.
À
luz de tal experiência, a renovação dos ciclos de exposição na internet se
converte em processo no qual indivíduos superam, em diminuta fração de tempo,
suas frustrações e tristezas, condição a desmobilizá-los à compreensão de que
esse exercício constitui um padrão de aprisionamento que se expressa inclusive
e fundamentalmente no domínio coletivo, limitando a autonomia em razão do fardo
que a ausência de validação social estabelece em espaços virtuais.
Em
conformidade com tal apreensão, é perceptível que a existência de plataformas
nas quais as relações são travadas sob intensa exposição fotográfica, perfaz uma
ágora na qual a mitigação da liberdade é um risco iminente, não apenas pela curadoria
que os algoritmos promovem em relação aos nossos gostos a consubstanciar uma
real vigilância e controle, mas, igualmente, pela autonomia se tornar renunciável
em favor de sinais de afeto e reconhecimento que se diluem a cada última
clicada.
A
urgência a que reflitamos sobre a vulnerabilidade humana manifesta em práticas condicionantes - em que pese atraentes em razão do convite ao prazer temporal -, reside no fato de
que tal perspectiva, ao reforçar os espasmos viciantes de reprodução
comportamental imposta artificialmente pelas mídias sociais, grave risco
à autonomia, sobretudo quando o confinamento existencial é replicado pela
sensação de que o reconhecimento e edificação dos indivíduos não se consumarão,
plenamente, fora dos espaços virtuais de validação pública.
Em algum
lugar na Via Láctea,
Maurício Alves.
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