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Mostrando postagens de fevereiro, 2020

O Caminho da Centopeia

Minha filha mais nova percebeu uma centopeia caminhando à noite certo dia, ocasião em que, encantada por aquele ser, perseguiu seus passos, que se direcionavam de modo difuso e aparentemente sem rumo definido. De um lado a outro seu mover gerava curiosidade e expectativa quanto ao destino a que se encaminhava a pequena lacraia, cuja marcha, sob ritmos variados, parecia não necessariamente seguir a um local, mas, experimentar as inúmeras possibilidades de roteiros que a superfície lhe proporcionava, condição acompanhada da coragem crescente de minha pequena Tatá em aproximar-se daquele artrópode. Aproximadamente sete minutos se passaram para que eu percebesse que o movimento do bichinho não poderia ser compreendido a partir de minhas expectativas, ou seja, sob o entendimento de que sua caminhada, à semelhança dos humanos, se realizaria com propósito previamente estabelecido e não ao acaso. Havendo propósito objetivamente, como, por exemplo, a busca por alimento ou adequado lo

Coringa e a Anomia Pós-Moderna

O celebrado filme "Coringa", cujo protagonismo fora ofertado ao ator Joaquim Phoenix, tem gerado a percepção de que há, numa medida imensa, a incidência de distúrbios e patologias mentais que decorrem do desprezo à dignidade, expresso pelo modelo neoliberal excludente, gerador de invisibilidade e desconexão com o ente humano.  A resposta originada do esmagador vazio existencial que oprime a alma desse Coringa pós-moderno parecerá contraditória, tendo em vista que o riso domina seu rosto quase permanentemente, e ante a ausência de compreensão acerca da complexidade profunda a marcar este incontido impulso, a irrefreável agressividade eclode como o avesso da violência institucionalizada pelo sistema capitalista sob o amparo e conivência estatal. O riso como patologia é uma realidade mais profunda e comum do que possamos suspeitar, pois, em tempos onde a distância perfaz condição para alguma proximidade - ainda que seja virtual -, os aparatos da cultura destinados à inte

"Me diz Que sou Ridículo"

s Por volta das 19:00, nosso grupo de amigos se reuniu na praça, conforme fazíamos há anos, quando, em meio a temas diversos tratados com a leveza de ocasião, paqueras e brincadeiras típicas de nossa faixa-etária, fomos surpreendidos com a aproximação de uma viatura policial que, abrupta e agressivamente ocupara, em segundos, nosso local de encontro, nossa ágora, experiência marcada por dois momentos especialmente. O primeiro diz respeito à brutalidade gratuita de um policial sobre um jovem, o qual lhe desferiu um tapa, cuja devastadora violência o impossibilitou permanecer de pé; o segundo, quando já havíamos nos postado com os braços ao alto e corpos contra as grades de um templo católico a fim de que a abordagem fosse realizada, meu irmão, num ato reflexivo, se apressou em retirar a carteira do bolso para, em mãos, facilitar a apresentação de seus documentos, momento em que fora atingido por um chute tão violento na nádega seguido de insultos e humilhações que a única reação