Seu constrangimento e desespero eram visíveis, e em que pese a quase inócua tentativa de se desvencilhar daquela opressão devastadora, uma vez que a cada segundo a sensação de impotência se impunha esmagadoramente, sua perseverança se expressava à semelhança de um náufrago que se socorre no último bote salva-vidas.
Tempestivamente, eu e um rapaz mais próximo a ela nos aproximamos em seu auxílio, porém, nossa disposição, em princípio, não parecia suficiente a resgatá-la. Porém seu esforço, somado talvez à nossa diligência em forçar a porta à direção oposta, a fez livrar-se daquela aparente armadilha e ocupar o interior do vagão, no entanto, sua mochila ficou contida pela força descomunal da porta, mas só por alguns segundos, tendo em vista empreendermos o mesmo e renovado esforço para agora salvar aquele objeto.
Tal episódio me levou a refletir acerca dos erros de cálculo que cometemos na tentativa de ocupar, de modo intempestivo, o trem de nossa história, à medida que o fazemos com excesso de bagagem que nos põe em embaraço e dificuldades desnecessárias.
Recordo-me que a moça, cuja experiência opressiva lhe infligiu o sentimento e a condição fática da impotência por alguns segundos, ao alcançar o interior do trem sacou o aparelho celular e, num ato quase defensivo, parecia simular uma comunicação - em que pese sua fisionomia expressar um misto de alívio e forjada impassibilidade.
Aquela experiência, sob o testemunho de diversas pessoas de cujos assentos não se mexeram a favor da moça em apuros, mostrou-me que nossos passos nem sempre alcançam, tempestiva ou perfeitamente, os ambientes aos quais nos dirigimos; que a soma de nossos esforços às vezes não é suficiente para nos livrarmos dos apertos, razão por que a gratidão pelos que nos socorrem deve prevalecer irrenunciavelmente.
Por fim, que nossas bagagens, o quanto possível, sejam equivalentes à nossa capacidade de suportá-las, a fim de que não nos esgotem em nossa travessia existencial.
Luz, paz e bem na caminhada, pois, o ano que se avizinha, em verdade já repousa, de modo concreto, na alma dos que se permitem alvejar pelos influxos da fé, esperança e amor.
Feliz 2020!
Em algum lugar da via láctea,
Maurício.
Uma visão exelente.
ResponderExcluirQue venhamos nos. distância de tudo quanto nos trás peso execivo e tornen-se pra nos ancora.
Feliz ano novo!