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No Planalto, sinais de uma cadeira vazia

Os ataques do atual presidente da república à imprensa, cada vez mais se intensificam no Brasil, expressos em respostas reativas e que, provavelmente, perfazem seu único recurso quando confrontado por jornalistas em pontos que relativizam seu governo, expondo autoritarismo tosco porquanto eivado de absoluta ausência de coerência e lógica em todas as oportunidades de manifestação pública. Esta prática, a qual demonstra não apenas carência de mínimo substrato intelectual ao básico exercício de comunicação, reduz a percepção positiva dos agentes internacionais acerca de nosso país, e pior, encolhe o significado da ideia presente na figura do chefe de estado perante a nação.+

Esquisita, grotesca e absolutamente incompatível com a conduta de um presidente é a escalada de impropérios proferidos por Bolsonaro a jornalistas que o arguem acerca de temas sensíveis, aos quais, as respostas oferecidas tem variado entre virulenta agressão ou abrupto encerramento de entrevistas, haja vista o senhor em comento sentir-se aviltado quando instado a prestar satisfações dos atos de seu governo ao povo brasileiro.

Aos dotados de inconformismo com tal comportamento, resta questionar a naturalidade com que tais agressões são recebidas por determinada parcela de nossos concidadãos, cuja resposta talvez se oculte no fato de que o propagador de fack news e contumaz agressor normalize a violência contra a imprensa sob a convicção de que, na ausência de capacidade discursiva ao menos razoável a habilitá-lo para o enfrentamento das questões que lhe são postas, o ataque, à semelhança da velha máxima, é a melhor defesa.

A despeito das razões jurídicas para o ingresso de ação de impedimento do presidente da república, as quais restam copiosamente demonstradas, perfaz inegável relevância atentar ao fato de que jamais antes o Brasil teve tamanha fuga de capital internacional, um grau de devastação ambiental notadamente na floresta amazônica tão gigantesco, escândalos que envolvem a família e o próprio chefe do executivo federal e um nível intelectual ínfimo dos quadros de primeiro escalão, a ponto de um ministro da educação cometer erros de português absolutamente básicos geradores de
perplexidade e assombro.

Quando pensamos que o inacreditavelmente absurdo já foi dito e realizado, somos surpreendidos por discursos que relativizam valores democráticos e republicanos consolidados e aparentemente intocáveis, bem como a reprodução de pensamento nazista, justo um modelo político devastador à dignidade e vida humana, conforme visto há poucos dias pelo já ex-secretário de cultura Alvim ao repetir discurso do ministro da propaganda de Hitler, Goebbels.

O disparate nas falas da ministra dos direitos humanos e política para mulheres não apenas choca, mas, parece causar uma apatia esmagadora à medida que a pauta de costumes plataforma sobre a qual se apoia esta senhora, reverbera uma loucura creio que jamais vista na história política contemporânea, a qual recomenda ao conjunto da sociedade brasileira, dentre outros despautérios, abstinência sexual como estratégia para prevenção de gravidez precoce e contágio de DST'S-AIDS.

Dois meses se passaram até que o governo federal promovesse alguma mobilização no sentido de conter o avanço do óleo nas praias nordestinas, cuja célere ação relativamente à investigação dos órgãos de marinha na elucidação da tragédia, foi a manifestação do ministro do meio ambiente ao afirmar, quase de plano, responsabilidade de navio venezuelano, sem contar o secretário da pesca que, não obstante em transmissão ao vivo ao lado do presidente da república explicitar apologia à inteligência dos peixes, condição supostamente crível, em razão de que não é de se imaginar que o ser marinho ao avistar alguma mancha não buscaria desviar-se da mesma, contrariando a publicação de vídeos e fotos, aos borbotões, de um volume assustador de peixes mortos.

As observações precedentes em que pese indicar evasão do tema incialmente proposto, são simbolicamente relevantes, haja vista a eloquência com que demonstram a relação de correspondência entre o perfil do presidente e aqueles que ao invés de assumirem a gestão de suas respectivas pastas (saliento que o ministro da justiça será objeto de reflexão em outro texto), comportam-se como asseclas de um líder desgovernado, cuja indisciplina, incapacidade de compreensão da dimensão republicana e democrática repercute talvez nossa feição mais horrível.

Um dos significativos sinais da péssima reputação do atual presidente brasileiro verifica-se na ausência de interesse de outros  chefes de estado em realizar reunião bilateral com aquele em sua primeira e vergonhosa participação na Conferência das Nações Unidas em 2019, o qual, com seríssimas dificuldades de proceder à leitura de seu patético pronunciamento, chocou o mundo pela estupidez, intolerância e conteúdo completamente impróprio e que mais se assemelhava à reprodução de um discurso de chefe de seita pelo fanatismo grosseiro e politicamente insano, condição a demonstrar o quão desprestigiado o Brasil se encontra no âmbito das relações internacionais, afinal, tal dimensão igualmente marca o pensamento terraplanista e patologicamente anticomunista do combalido cérebro do chanceler Ernesto Araújo. o qual encontrava-se de férias em meio às tensões entre EUA e Irã, cujas implicações de tal atmosfera de insegurança poderão, em alguma medida, alcançar o Brasil.

Definitivamente a imprensa continuará alvo das bolsonarices advindas do Palácio do Planalto, onde, conspurcada pelo rasteiro pensamento, descompromisso com a coisa pública e total desrespeito aos fundamentos do estado de direito, a cadeira presidencial, a meu juízo, permanece vazia até a presente data.


Em algum lugar da Via Láctea,

Maurício.












 















         

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