Convergência é uma expressão pinçada da certeza de que as coisas se encaminham ao encontro de seus pares, tal qual um quebra-cabeças que, formado por peças aparentemente desconexas, se vinculam uma vez enxergada correspondência entre a configuração de seus respectivos elementos, os quais, mesmo isoladamente, indicariam relação de pertencimento ao todo. A contrário senso, repercute a ideia de desconexão ou ausência de liame entre certos fatores e determinados fins, significando inexistir controle humano sobre qualquer dimensão da vida.
Comparar a existência a um quebra-cabeças induz ao entendimento de que, repousa no inconsciente, a impressão de que os fatos da vida estão interconectados se vistos em conjunto, indicando que os resultados decorrem de fatores e características que se amoldam a determinados fins.
Por princípio lógico, não há como conceber que a opção por um deslocamento com veículo terrestre possibilitará uma viagem espacial; assim como utilizar mel não terá o condão de salgar o alimento, razão por que causa e efeito operam como elementos de uma mesma equação, à semelhança do nascer do sol que inaugura a manhã, e a noite, que é precedida pela despedida do astro rei.
Os fatos da vida estão vinculados aos aspectos e circunstâncias que lhes são inerentes, sem os quais não se consumariam determinados resultados, posto que as condições de tempo, espaço e oportunidade confluem a uma finalidade que, embora não necessariamente prevista, constitui decorrência direta de tais elementos imprescindíveis.
A par de tal assertiva localizamos o imponderável, a ocorrência surpreendentemente imprevista, ou simplesmente o fator alienígena que se impõe como um dilúvio em plena inclemência solar, para o qual a perplexidade torna nebulosa qualquer tentativa de compreensão dos fatos, visto o obscuro cenário cooperar ao entendimento de que a correlação entre as diversas e imperceptíveis condições, simplesmente não possui explicação.
Decorre disso uma diferença entre nossa expectativa e a esmagadora realidade fática, para a qual reagimos de acordo com nossa base emocional: para alguns, a estupefação corresponde a um fator de defesa superlativo à medida que hiperdimensioam os fatos da vida de modo a ocupar o lugar de sequestro vitimista; em outros superabunda equilíbrio para reconhecer que, na ausência momentânea de compreensão de certos dados da existência, há disposição para assimilá-los serena e humildemente.
A propósito, hoje, em Salvador, houve uma precipitação cujo volume excedera o esperado para todo o mês de novembro, conforme indicara a órgão de defesa civil do município, razão por que, a exigência de explicações para tal fato, cujas implicações tem sido devastadoras especialmente para a comunidade pobre, perfaz imperativo irrenunciável.
Não obstante concordarmos que a superveniência de eventos da natureza guarda potencial para suplantar mecanismos de contenção sofisticados, é forçoso rejeitarmos a conveniente justificativa que atrela os efeitos da chuva exclusivamente ao seu expressivo volume, bem como a hábitos absurdos e inaceitáveis de parcela da população que deposita lixo nos canais, tendo em vista a frágil infraestrutura para o regular escoamento das águas.
Diante da gravidade é perceptível que as razões são complexas, em que pese a responsabilidade do ente estatal corresponder à mais imediata, sobretudo quando a previsibilidade de tais ocorrências é fator inegável, tendo em vista a flagrante insuficiência de investimentos em infraestrutura, condição a ampliar sobremodo o nível de vulnerabilidade das pessoas.
Diante da gravidade é perceptível que as razões são complexas, em que pese a responsabilidade do ente estatal corresponder à mais imediata, sobretudo quando a previsibilidade de tais ocorrências é fator inegável, tendo em vista a flagrante insuficiência de investimentos em infraestrutura, condição a ampliar sobremodo o nível de vulnerabilidade das pessoas.
Tem-se, portanto, a convergência de fatores ambientais, culturais e administrativos que, convergindo e criando o ambiente propício ao caos, impõe refletirmos em que medida seria possível antever os fatos que tem afligido os soteropolitanos com vistas a mitigá-los.
Eis um exemplo macro e cuja natureza - malgrado diferir de incontáveis circunstâncias decorrentes da subjetividade humana - constitui cenário no qual enxergamos a concorrência de tempo, espaço e oportunidade, peças que se encaixam no quebra-cabeças composto igualmente pela ação ou inércia humanas, as quais em alguma medida se vinculam à consecução (ou inevitabilidade?) de determinados fins, mesmo aqueles inesperados, no bojo dos quais reside a correlação entre fatores circunstanciais e ao mesmo tempo previsíveis.
Pensemos a respeito.
Salvador, 26.11.2019,
Maurício.
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